Investidores analisam efeitos da liquidação do banco de Daniel Vorcaro, preso nesta terça, no setor; no câmbio, preocupação é saber se o Fed fará um novo corte na taxa de juros
SÃO PAULO, SP () – A Bolsa brasileira está em queda nesta terça-feira (18), tendo como pano de fundo a liquidação do Banco Master e a prisão de Daniel Vorcaro, dono da instituição.
O caso afeta as negociações no setor bancário. O mercado teme que os maiores bancos do país precisem desembolsar recursos volumosos para cobrir as perdas do FGC (Fundo Garantidor de Créditos) com indenizações a investidores do Banco Master.
Às 15h05, o índice caía 0,16%, a 156.741 pontos. O dólar, no mesmo horário, recuava 0,19%, a R$ 5,321, movido pela cautela dos operadores em relação ao futuro dos juros nos Estados Unidos.
A prisão de Daniel Vorcaro pegou o mercado de surpresa nesta terça. O banqueiro se preparava para embarcar em um voo particular quando foi detido no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, pela Polícia Federal.
Segundo integrantes da corporação que acompanham o caso, havia uma suspeita de que Vorcaro pudesse deixar o país para evitar a prisão. Os advogados dele, por outro lado, afirmam que o banqueiro estava a caminho de Dubai para assinar o contrato de venda do Banco Master para investidores sauditas. Na véspera, a Fictor Holding Financeira havia anunciado uma oferta de compra do banco.
A prisão faz parte da Operação Compliance Zero, que investiga uma fraude estimada em R$ 12 bilhões e da qual o Master teria envolvimento. Augusto Lima, sócio de Vorcaro, também foi detido.
O BC (Banco Central), na esteira da prisão, anunciou a liquidação do Banco Master, no que deve representar a maior operação de resgate do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) da história. O Fundo, uma espécie de “colchão” de segurança para casos de falência de instituições financeiras, precisará honrar entre R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões em depósitos.
A avaliação é que o caso não traz risco para o sistema financeiro, uma vez que o FGC tem mais de R$ 120 bilhões em caixa. No entanto, é possível que bancos precisem fazer contribuições adicionais ao órgão para manter sua liquidez. O FGC deve elevar a alíquota de contribuição e pedir a antecipação de cinco anos de pagamentos às instituições.
Grandes bancos, que têm tradicionalmente mais depósitos, terão algumas semanas para transferir os recursos bilionários para o FGC.
Parte dessa operação já era um risco anunciado para o setor, afirma Daniel Teles, especialista e sócio da Valor Investimentos. “O risco iminente de solvência já estava sendo alertado há muito tempo.”
Mesmo assim, o setor bancário na Bolsa sofre os efeitos da operação. Liderando as quedas, Banco do Brasil recuava 1,96%, seguido pelas ações preferenciais e ordinárias do Bradesco, com perdas de 0,67% e 0,49%, respectivamente. Itaú perdia 0,3%; Santander, 0,21%.
“A reação reflete o receio de que o FGC vai exigir contribuições extras para recompor o patrimônio”, diz Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad. “Apesar da volatilidade imediata e do impacto no Ibovespa, a leitura é de que o evento não contamina os fundamentos do sistema financeiro nacional e nem gera risco sistêmico, tratando-se de um ajuste pontual, ainda que oneroso, às regras e ao saldo do FGC por parte das principais instituições financeiras.”
Para o mercado cambial, o caso Master pouco faz preço. Os investidores estão atentos ao cenário externo, sobretudo a sinalizações sobre a trajetória dos juros dos Estados Unidos.
A continuidade do ciclo de cortes foi colocada em dúvida na última semana. Uma série de declarações de autoridades do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) aponta que, para a próxima reunião de política monetária, não há consenso sobre uma nova redução nos juros.
Na segunda, o vice-presidente do Fed, Philip Jefferson, afirmou que o banco central precisa “proceder lentamente” com quaisquer outros cortes nas taxas de juros diante dos efeitos sobre o processo inflacionário.
“A postura atual da política monetária ainda é um pouco restritiva, mas nós a aproximamos de seu nível neutro, que não restringe nem estimula a economia”, disse Jefferson. “A evolução do equilíbrio de riscos ressalta a necessidade de prosseguirmos lentamente à medida que nos aproximamos da taxa neutra.”
A cautela de Jefferson espelha a de Mary Daly, presidente do Fed de São Francisco, e a de Neel Kashkari, presidente do Fed de Minneapolis. Enquanto Daly afirma que qualquer decisão sobre o próprimo passo do banco central agora seria “prematura”, Kashkari avalia os sinais da economia como “mistos”.
As pontuações têm sugerido que os próximos passos do banco central não estão dados. “Longe disso”, disse o presidente do Fed, Jerome Powell, já na entrevista coletiva após o encontro de outubro.
Operadores agora estão divididos: 40,9% deles apostam em um corte de 0,25 ponto em dezembro, enquanto os 59,1% restantes vêem uma manutenção como mais provável, de acordo com a ferramenta FedWatch do CME Group.
“Há um mês, 90% dos operadores apostavam em um corte. A perspectiva de reduções mais lentas favorece a rentabilidade dos títulos americanos e ajuda na atração de investimentos externos, o que tende a fortalecer o dólar globalmente”, diz Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.
Nesse sentido, investidores seguem à espera da divulgação de novos dados sobre a economia norte-americana após o fim da paralisação do governo. O destaque será o relatório de empregos payroll, a ser divulgado na quinta-feira. Antes disso, na quarta-feira, sairá a ata do último encontro de política monetária do Fed e o balanço corporativo da Nvidia.
A fabricante de chips de inteligência artificial inspira cautela nos investidores globais, que temem que o setor de tecnologia esteja com valores de mercado inflados. O risco de uma bolha tem despertado preocupações nos últimos meses e, na última semana, provocou uma liquidação nas principais Bolsas de Valores do mundo.
Dólar e Bolsa caem, com mercado atento a caso Master e trajetória dos juros dos EUA
Fonte: Gazeta Mercantil – Economia





