Os Estados Unidos se preparam para mais uma eleição presidencial, e os olhares do mundo se voltam para o cenário político norte-americano. O desfecho do pleito, previsto para novembro deste ano, terá repercussões globais e pode moldar a política, economia e posicionamentos em relação a conflitos globais. Mas, além disso tudo, poderá influenciar a política do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Tradicionalmente disputada entre Republicanos e Democratas, a eleição terá como principais candidatos o atual mandatário, Joe Biden, e Donald Trump.
Saúde de Biden deve influenciar
O democrata Joe Biden, de 81 anos, tem sido alvo de desconfiança quanto à sua aptidão cognitiva e capacidade de exercer novamente o cargo de presidente. Isso porque recentemente o norte-americano tem cometido gafes em discursos públicos. Por isso, o nome da vice-presidente Kamala Harris começa a ganhar força para representar o partido, causando incerteza no cenário eleitoral norte-americano.
Eleições nos EUA podem voltar a redefinir o cenário político no Brasil?
As eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2016 e 2020 têm paralelos com as disputas do Brasil em 2018 e 2022. Em ambos os casos, um candidato de direita, visto como um “outsider” da política, venceu a eleição e enfrentou acusações e polêmicas com a oposição durante seu mandato.
No entanto, tanto Donald Trump quanto Jair Bolsonaro fracassaram em suas tentativas de reeleição. Enquanto o cenário político brasileiro para 2026 está sendo rascunhado, a campanha eleitoral em uma das maiores democracias do mundo segue a todo vapor, dando indícios do que pode ser esperado para o futuro político do Brasil.
Lula e Biden não têm uma relação de amizade próxima, mas também não protagonizaram conflitos de animosidade. Em entrevista à Rádio Itatiaia, o petista expressou seu apoio à vitória do democrata, argumentando que “Biden representa a certeza de que os EUA continuarão respeitando a democracia”. Com Trump, os impactos poderiam ser outros. O republicano mantém uma forte identificação com os bolsonaristas, que o apoiam juntamente com parlamentares de seu partido para fortalecer sua política no Brasil.
Trump e Bolsonaro: situações distintas
Apesar de ambos os líderes de direita enfrentarem ações na Justiça, as situações de Donald Trump e Jair Bolsonaro são bem diferentes. No início de julho, a Suprema Corte dos EUA decidiu que Trump tem imunidade contra processos federais por ações oficiais que tomou enquanto estava no cargo. Essa decisão, por enquanto, permite que o ex-presidente participe da disputa eleitoral.
Bolsonaro, por outro lado, tornou-se inelegível logo após deixar o cargo devido a dois processos: 1) um por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação nas eleições de 2022; 2) pela utilização eleitoral do 7 de Setembro de 2022, o que estendeu sua inelegibilidade até 2030.
Segundo o advogado especializado em Direito Eleitoral, Alexandre Rollo, a possibilidade de anulação dessas condenações de Bolsonaro ainda é considerada remota.
“Para se reverter essas condenações seriam necessários recursos ao STF que, na imensa maioria dos casos, não altera as decisões do TSE. Uma inelegibilidade já seria bem difícil de reverter no STF. Duas é praticamente impossível. O que restaria ao ex-presidente seria alguma anistia pelo Congresso Nacional que, mesmo assim, ainda poderia ser derrubada no próprio STF. Se eu tivesse que apostar as minhas fichas nessa questão, todas elas seriam pela não reversão”, avaliou.
Mudanças no cenário externo
Além das eleições nos EUA, há outras disputas políticas ao redor do mundo que estão aquecendo o debate interno no Brasil. Recentemente, a esquerda, aliada ao centro e à centro-esquerda, obteve uma vitória significativa nas eleições parlamentares na França. Pouco antes disso, o partido trabalhista quebrou uma hegemonia de 14 anos do partido conservador no Reino Unido, elevando Keir Starmer ao cargo de primeiro-ministro.
Segundo Eduardo Lima, historiador e mestre pela Unesp, esses eventos são fatores que, assim como as eleições nos EUA, tendem a influenciar o debate político no Brasil. No entanto, ainda estão longe de definir os rumos de uma disputa presidencial ou indicar uma nova onda de direita ou esquerda.
“No Brasil, esses discursos sobre a direita nos Estados Unidos, ou as eleições na França vão ter influência até um certo ponto, para a construção do discurso. O que vai fazer é ganhar a eleição é a questão econômica e o poder das redes sociais, com o candidato mostrando de forma clara que tem condições de governar o Brasil”, avalia o especialista, que conclui. “A questão internacional é importante é mais para construção de um discurso de um posicionamento ideológico, mas o que ganha eleição no Brasil é o sócioeconômico”, pontuou.