Início com um apelido inusitado
O início da carreira de De la Cruz foi moldado por um episódio curioso. Quando ainda jogava nas categorias de base do Liverpool de Montevidéu, com apenas 14 anos, surpreendeu seu treinador Gabriel Oroza ao pedir que fosse chamado de “Bolita” — um apelido carinhoso herdado de seu pai, Daniel De la Cruz, conhecido como “Bola”, que também teve uma carreira no futebol e foi presidente de ligas infantis no Uruguai. Esse pedido, que pode parecer simples, já indicava a personalidade única e o senso de identidade que o jovem jogador carregava desde cedo.
Personalidade marcante desde a base
Gabriel Oroza, um dos primeiros treinadores de De la Cruz, lembra como o jovem, ainda tímido aos olhos da imprensa, sempre demonstrou um espírito atrevido. Ao ser chamado pelo sobrenome, prontamente corrigiu o técnico, pedindo para ser chamado por seu apelido familiar. “Ele me corrigiu logo de início, o que já demonstrava que não era um garoto comum”, recorda Oroza. A ousadia no comportamento foi acompanhada pela habilidade em campo, que logo fez com que ele se destacasse entre os demais.
Esse comportamento não era isolado. Aldo Correa, outro treinador que acompanhou o desenvolvimento de De la Cruz, também se recorda da confiança que o jogador demonstrava em momentos decisivos. Durante uma partida tensa contra um tradicional rival, por exemplo, pediu que o jogador fosse discreto ao comemorar. Mas De la Cruz, ao marcar, apontou para o número da camisa, provocando a torcida adversária e mostrando sua coragem e confiança.
Ousadia dentro e fora de campo
Se De la Cruz pode parecer tímido em entrevistas e diante da torcida, quem o conhece de perto sabe que ele é descrito por seus antigos treinadores como “desfachatado”, ou atrevido. Essa ousadia o acompanha desde jovem e foi vista em várias situações dentro e fora de campo. Ainda nas categorias de base, quando convocado para a seleção sub-15 do Uruguai, ele não hesitou em cumprimentar o respeitado técnico Óscar Tabárez, o “Maestro”, de maneira descontraída: “Olá, Maestro, que tal?”. Esse comportamento destoava dos outros jogadores, que geralmente chegavam com mais cautela.
A confiança em si mesmo sempre foi uma marca registrada de De la Cruz. Em outra ocasião, antes de um jogo importante, ele foi à imprensa e declarou: “Se preparem, vocês vão me dar o prêmio de melhor do jogo”. E, como prometido, foi eleito o melhor em campo, reafirmando sua capacidade de lidar com a pressão e se destacar em momentos decisivos.
Liderança desde cedo
Além de seu talento, a liderança natural de De la Cruz também se destacava. Mesmo jovem, ele assumia a responsabilidade em jogos difíceis, como nos confrontos contra Nacional, Peñarol ou Defensor. Nos momentos mais complicados, era ele quem comandava a equipe e levava seus companheiros à frente. “Nos jogos difíceis, ele sempre aparecia”, conta Oroza, que lembra com orgulho do crescimento de seu antigo pupilo.
Sua inteligência tática também é algo que sempre foi elogiado por seus treinadores. Apesar de sua estatura relativamente baixa, De la Cruz sempre soube usar sua leitura de jogo para escapar das disputas físicas e se posicionar de maneira estratégica, o que o ajudou a se destacar ao longo de sua carreira. “Taticamente, ele está sempre à frente dos outros”, diz Aldo Correa, destacando a capacidade de De la Cruz de fazer a diferença mesmo quando os adversários tentavam anular seu jogo.
Do River Plate ao Flamengo
Após sua passagem pelo Liverpool-URU, De la Cruz foi para o River Plate, onde se consolidou como um dos principais jogadores sob o comando do técnico Marcelo Gallardo. Seu desempenho chamou a atenção de grandes clubes, e não demorou para que ele realizasse o sonho de vestir a camisa da seleção uruguaia em uma Copa do Mundo, um feito que encheu de orgulho todos aqueles que o acompanharam desde o início de sua carreira.
Agora, no Flamengo, De la Cruz segue o mesmo caminho de sucesso. A adaptação a um dos maiores clubes da América do Sul está em andamento, e apesar de sua timidez nas entrevistas, seus antigos treinadores acreditam que o espírito ousado do jogador logo será visto com mais clareza. Recentemente, em um jogo da Libertadores contra o Peñarol, De la Cruz mostrou novamente sua importância, sendo uma peça fundamental na equipe mesmo após enfrentar uma lesão.
Expectativas para o futuro no Flamengo
O Flamengo deposita grandes expectativas em Nicolás De la Cruz, e os torcedores esperam que ele seja um dos protagonistas em momentos decisivos, especialmente na Libertadores, competição na qual ele já demonstrou seu valor. Para Gabriel Oroza, seu antigo técnico, não há dúvidas de que De la Cruz continuará a se destacar em campo. “Ele já demonstrou que aparece nas horas difíceis”, comenta.
A confiança no talento e na capacidade de liderança de De la Cruz é grande, e o jogador tem tudo para se firmar como uma referência no Flamengo, assim como foi no River Plate e no futebol uruguaio. Seu apelido carinhoso “Bolita”, que remete à sua história familiar e à sua trajetória no futebol, ainda é lembrado com carinho por seus primeiros treinadores. Agora, cabe a ele escrever novos capítulos em sua carreira, vestindo a camisa rubro-negra e mostrando que sua ousadia e talento podem levá-lo ainda mais longe.
Jornal da Tarde
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