Quando aterrissou em Dubai, nos Emirados Árabes, há um ano, Sabrina Petraglia não conhecia quase nada da cultura árabe. Aos poucos, a atriz quebrou preconceitos e não só se apaixonou pelo novo país, como adotou hábitos locais. “Cheguei aqui com vergonha do meu conhecimento sobre a região [muçulmana] e as mulheres”, admite, em bate-papo com a Glamour. “Quando eu vi as mulheres com abayas, sheilas (véu), toda tapadas, é lógico que eu ficava um pouco impressionada, porque é muito diferente da gente, mas percebi que elas têm muito orgulho de usar essas roupas”, completa.
A adaptação foi tão positiva que até o estilo de Sabrina mudou. “Eu mandei uma mala de volta das roupas que eu trouxe do Brasil porque eu não me sinto mais confortável usando essas peças aqui… Eu aderi meio que a moda daqui. Me sinto mais adequada, elegante. Agora acho até chique não mostrar tanto o corpo…”, garante a atriz, que vive em um condomínio de casas com o marido Ramón Velásquez e os filhos Gael, de 4 anos, Maya, 2, e Leo, 1.
A saudade do Brasil é grande, mas por outro lado, a atriz arrisca dizer que escolheu “o melhor lugar do mundo” para as crianças crescerem. “Sou muito apaixonada pelos Emirados Árabes e o ponto alto é a segurança. Consigo deixar o automóvel ligado, o celular dentro, a chave no contato, ir até a escola, conversar com a professora, voltar e nada acontecer. Aqui não existe vidro, carro blindado. Ninguém mexe comigo na rua, é muito respeito”, detalha.
Entre curiosidades e episódios inusitados, Sabrina relata o dia que visitou a Grande Mesquita do Xeique Zayed, em Abu Dhabi, cidade vizinha e capital de Dubai. Por conta da abaya escolhida, que tinha uma leve transparência e mostrava um pouco do tornozelo, colo e pulso, a atriz precisou mudar de roupa. “A segurança veio conversar comigo. Eles foram gentis, mas pediram para usar uma abaya deles. Um funcionário também solicitou que eu apagasse algumas fotos e vídeos com a roupa que estava vestindo antes. Não devemos ficar tirando fotos e se exibindo, é um lugar de oração. Pedi mil desculpas, fiquei super envergonhada com esse episódio”, lembra.
A artista anda tão encantada com o país que pretende desenvolver um projeto sobre os Emirados Árabes. “Também sou jornalista de formação e tenho vontade de criar algo para falar, não só de turismo e do glamour de Dubai, mas também da história dos Emirados Árabes. Quero abordar a condição da mulher, as roupas, a moda…”, revela.
E quando veremos Sabrina de volta às telas brasileiras? A atriz, que esteve em Salve-se Quem Puder (2020), estará no Brasil no meio do ano para rodar o filme Mar de Mães, da Thaís Vilarinho. “Estou quase três anos fora do ar e desesperada para voltar”, diz. No entanto, a atriz avisa que a visita é apenas profissional. “Não tenho vontade de viver no Brasil novamente. Estou feliz em Dubai”, afirma.
Confira a entrevista completa abaixo!
Quais foram os maiores desafios que você enfrentou ao se adaptar a uma cultura tão diferente da brasileira?
Dia 5 de janeiro fez um ano que eu me mudei para Dubai. E foi surpreendente, porque é diferente de tudo o que eu imaginava e ouvia falar… Eu estou amando morar aqui, claro que eu tive dificuldade com a língua, e ainda tenho um pouco. Cheguei aqui e não falava nada de inglês, muito menos árabe. Por outro lado, Dubai é super internacional, tem pessoas do mundo inteiro, e aí eu consigo me sentir em casa. As minhas maiores dificuldades foram com as crianças, também por conta da língua, além de, claro, ficar longe da família, da minha rede de apoio. De resto, talvez as frutas. Porque parece que elas aqui têm um sabor diferente, são muito caras por serem exportadas de todos os lugares do mundo.
Como tem sido a experiência de criar seus filhos em Dubai? Quais são as principais diferenças em relação à criação no Brasil?
Eu arrisco dizer que eu escolhi o melhor lugar do mundo para criar os meus filhos pequenos, porque eu sou muito apaixonada pelos Emirados Árabes. O ponto alto para mim é a segurança. Consigo deixar o automóvel ligado, com o ar-condicionado ligado, o celular dentro, a chave no contato, ir até a escola, conversar com a professora, voltar e nada acontecer. Aqui não existe vidro, carro blindado. Ninguém mexe comigo na rua, é muito respeito. Não existe mendigo, não existe morador de rua. Aqui é crime dar esmola e pedir esmola. Então, é assim, é um sonho, é uma bolha. Já viajei bastante e acho que é o lugar mais limpo, seguro e bonito. Meu dia a dia aqui é um sonho. É tudo o que eu pedi para Deus e muito mais. Em comparação com o Brasil, infelizmente, tem a violência. Eu tive um episódio violento na família muito difícil, há um tempo atrás, de um primo que foi assassinado em um farol de trânsito, voltando da faculdade, aos 20 anos, que mudou a vida da minha família inteira. E é triste o que se vê nas ruas, enfim, a desigualdade é gigante. Aqui eu sinto, no dia a dia, uma diferença bem brutal.
Tem alguma curiosidade sobre escola dos meninos pra contar?
Na escola do Gael tem uma diversidade que me encanta. Você aprende a lidar com o diferente, com o diferente da sua cultura. Para você ter ideia, são 18 alunos na classe do Gael e são 15 nacionalidades. É uma diversidade cultural gigante. Eles vão crescer com essa visão de aceitação e de respeito amplo. As atividades também são muito ricas e os professores são muito valorizados. O Gael, com 4 anos, já escreve o próprio nome, e começou a ler. E eu tenho dificuldade de acompanhar um pouco, porque preciso correr com o meu inglês. Estou aprendendo com o Gael. É até bonito isso. A gente tem uma troca aprendendo a língua juntos.
Muito se fala sobre a liberdade da mulher em países árabes… Como está sendo a sua experiência e o que você sente em relação a outras mulheres?
Eu cheguei aqui com vergonha do meu conhecimento sobre a região e as mulheres. Quando eu vi as mulheres com as abayas, sheilas (véu), toda tapadas, é lógico que eu ficava um pouco impressionada, porque é muito diferente da gente, mas percebi que elas têm orgulho de usar essas roupas. A maioria segue o Islamismo, mas tem muitas que não são muçulmanas, e adotam a roupa. Antes de ser religioso, é cultural. Os homens usam o branco porque os peregrinos lá atrás na história andavam pelo deserto com o sol muito na cabeça. A cor clara refletia melhor o sol, a manga comprida ajudava a não queimar e o pano na cabeça protegia. Já as mulheres usavam o preto, que era um tecido mais barato, porque ficavam dentro de casa.
Então, o que é aflição pra gente é orgulho pra eles. As mulheres não são obrigadas a usar essa roupa, tem quem não use, não queira. Elas podem escolher. As mulheres aqui são minoria da população e mais graduadas que os homens. O Sheikh Mohammed incentiva todas a estudarem porque são elas que passam o conhecimento, que estão mais em contato com as crianças. As mulheres são super empoderadas, mandam nas famílias e até nos homens que têm mais de uma esposa. Ele só vai ter uma segunda mulher se ela autorizar. É uma cultura diferente. Tive vergonha do meu preconceito ao chegar aqui.
Tem algum episódio que te marcou?
Quando fui na mesquita em Abu Dhabi, a minha abaya tinha uma leve transparência no pulso e nesse lugar sagrado e religioso, não se pode chamar atenção. Como estava ventando, comecei a mostrar um pouco o tornozelo e aparecia também um pouco do colo e pulso, então a segurança veio conversar comigo. Eles foram gentis, não foram grosseiros nem nada, mas pediram para usar uma abaya deles. Um funcionário também solicitou que eu apagasse algumas fotos e vídeos com a roupa que estava vestindo antes. Não devemos ficar tirando fotos e se exibindo, é um lugar de oração. Pedi mil desculpas, fiquei super envergonhada com esse episódio. Agora, eu até acho chique não mostrar tanto o corpo, até as minhas roupas estão mudando. Claro que pode usar biquíni, roupa de ginástica, alcinha, shorts curto, pode tudo… Mas em lugares específicos, como uma mesquita, é proibido. Mas, naturalmente, eu não me sinto bem usando uma regata pra lá e pra cá.
Em relação à religião, você segue ou participa do calendário muçulmano?
Não, eu não sigo a religião, eu respeito. Participei de um Ramadã só, porque eu estou há um ano aqui. Eu não faço jejum, mas gosto de ir pra festa da quebra do jejum, que é muito legal. No final do dia, quando o sol se põe, eles têm uma refeição muito típica, o Sorrur. Os muçulmanos podem comer e beber água até o nascer do sol. Eles fazem várias reuniões e festas e eu tive a oportunidade de participar. É muito especial, muito rico.
Há algum aspecto cultural em Dubai que tenha chamado particularmente a sua atenção ou que você tenha incorporado em sua vida cotidiana?
Eu acho que o aspecto cultural da moda é o que mais tem mudado o meu cotidiano. As minhas roupas mudaram. Eu mandei uma mala de volta das roupas que eu trouxe do Brasil porque eu não me sinto mais confortável usando essas peças aqui. Eu não uso regata e gosto de cobrir o colo, braço e tudo abaixo do joelho. Eu aderi meio que a moda aqui. Claro que eu uso roupa de academia, na correria do dia a dia e tudo bem. E não tem problema porque aqui também pode. É só uma coisa que particularmente eu incorporei. Me sinto mais adequada, elegante. Ando tão encantada com tudo que eu estou aprendendo, que tenho curtido entrar no ritmo deles.
Há a possibilidade de trabalhar como atriz em Dubai? Tem vontade de fazer algum projeto aí?
O meu inglês não é bom ainda, e eu não falo árabe, então acho muito difícil atuar. Aqui não tem uma produção enorme, que nem no Brasil, não tem essa tradição da novela brasileira, isso não existe. Mas Dubai é um ponto de conexão internacional muito grande. E eu, sim, penso em uma carreira internacional, seja séries, filmes… Também sou jornalista de formação e tenho vontade de criar algo para falar, não só de turismo e do glamour de Dubai, mas também da história dos Emirados Árabes, porque aqui a região é muito rica. Quero abordar a condição da mulher, as roupas, a moda, os pontos turísticos… É um país super jovem, com 52 anos… A história deles é linda, de superação. Eram muito pobres e, de repente, descobriram o petróleo. É um país super jovem, com 52 anos… Estou com isso na cabeça, não sei como eu vou concretizar, mas acabei de revelar um dos meus maiores desejos profissionais atuais.
Você estava aprendendo árabe, certo?
Eu aprendi um pouquinho de árabe, porque eu acho gentil quando a gente chega num lugar, aprender a falar a língua local, mas não estou tendo aulas de árabe, eu tenho aulas de inglês, porque quase 90% das pessoas que moram em Dubai são expatriados de outros lugares do mundo, a língua oficial aqui é o inglês. Até o ano que vem eu quero estar com esse inglês tinindo.
O que mais sente falta do Brasil?
Eu sinto falta do Brasil. Eu sinto falta dos meus amigos, falta das pessoas. E claro, a paisagem. Aqui é diferente, é deserto, é tudo novidade pra mim, eu estou naquela fase do encantamento. Mas eu sinto falta da natureza do Brasil. O sabor das frutas brasileiras têm um sabor especial. Dói um pouquinho. Apesar de estar apaixonada por tudo aqui, eu sou brasileira. E tenho orgulho disso.
Em relação a projetos no Brasil, tem algo em vista para esse ano?
Eu vou voltar no meio do ano para gravar o filme Mar de Mães, da Thaís Vilarinho. E se tudo der certo, retorno também para fazer um outro projeto, que eu ainda não assinei, mas que devo ficar uns quatro meses no Brasil trabalhando. Eu amo fazer novela, estou morrendo de saudade. Estou quase três anos fora do ar e desesperada para voltar.
Pensa em ficar de vez em Dubai?
Quero continuar trabalhando no Brasil, mas não tenho vontade de viver no Brasil novamente. Estou feliz em Dubai. Gosto de morar aqui e não tenho previsão de voltar a morar no meu país. No entanto, vou deixar a vida acontecer.
Quando aterrissou em Dubai, nos Emirados Árabes, há um ano, Sabrina Petraglia não conhecia quase nada da cultura árabe. Aos poucos, a atriz quebrou preconceitos e não só se apaixonou pelo novo país, como adotou hábitos locais. “Cheguei aqui com vergonha do meu conhecimento sobre a região [muçulmana] e as mulheres”, admite, em bate-papo com a Glamour. “Quando eu vi as mulheres com abayas, sheilas (véu), toda tapadas, é lógico que eu ficava um pouco impressionada, porque é muito diferente da gente, mas percebi que elas têm muito orgulho de usar essas roupas”, completa.
A adaptação foi tão positiva que até o estilo de Sabrina mudou. “Eu mandei uma mala de volta das roupas que eu trouxe do Brasil porque eu não me sinto mais confortável usando essas peças aqui… Eu aderi meio que a moda daqui. Me sinto mais adequada, elegante. Agora acho até chique não mostrar tanto o corpo…”, garante a atriz, que vive em um condomínio de casas com o marido Ramón Velásquez e os filhos Gael, de 4 anos, Maya, 2, e Leo, 1.
A saudade do Brasil é grande, mas por outro lado, a atriz arrisca dizer que escolheu “o melhor lugar do mundo” para as crianças crescerem. “Sou muito apaixonada pelos Emirados Árabes e o ponto alto é a segurança. Consigo deixar o automóvel ligado, o celular dentro, a chave no contato, ir até a escola, conversar com a professora, voltar e nada acontecer. Aqui não existe vidro, carro blindado. Ninguém mexe comigo na rua, é muito respeito”, detalha.
Entre curiosidades e episódios inusitados, Sabrina relata o dia que visitou a Grande Mesquita do Xeique Zayed, em Abu Dhabi, cidade vizinha e capital de Dubai. Por conta da abaya escolhida, que tinha uma leve transparência e mostrava um pouco do tornozelo, colo e pulso, a atriz precisou mudar de roupa. “A segurança veio conversar comigo. Eles foram gentis, mas pediram para usar uma abaya deles. Um funcionário também solicitou que eu apagasse algumas fotos e vídeos com a roupa que estava vestindo antes. Não devemos ficar tirando fotos e se exibindo, é um lugar de oração. Pedi mil desculpas, fiquei super envergonhada com esse episódio”, lembra.
A artista anda tão encantada com o país que pretende desenvolver um projeto sobre os Emirados Árabes. “Também sou jornalista de formação e tenho vontade de criar algo para falar, não só de turismo e do glamour de Dubai, mas também da história dos Emirados Árabes. Quero abordar a condição da mulher, as roupas, a moda…”, revela.
E quando veremos Sabrina de volta às telas brasileiras? A atriz, que esteve em Salve-se Quem Puder (2020), estará no Brasil no meio do ano para rodar o filme Mar de Mães, da Thaís Vilarinho. “Estou quase três anos fora do ar e desesperada para voltar”, diz. No entanto, a atriz avisa que a visita é apenas profissional. “Não tenho vontade de viver no Brasil novamente. Estou feliz em Dubai”, afirma.
Confira a entrevista completa abaixo!
Quais foram os maiores desafios que você enfrentou ao se adaptar a uma cultura tão diferente da brasileira?
Dia 5 de janeiro fez um ano que eu me mudei para Dubai. E foi surpreendente, porque é diferente de tudo o que eu imaginava e ouvia falar… Eu estou amando morar aqui, claro que eu tive dificuldade com a língua, e ainda tenho um pouco. Cheguei aqui e não falava nada de inglês, muito menos árabe. Por outro lado, Dubai é super internacional, tem pessoas do mundo inteiro, e aí eu consigo me sentir em casa. As minhas maiores dificuldades foram com as crianças, também por conta da língua, além de, claro, ficar longe da família, da minha rede de apoio. De resto, talvez as frutas. Porque parece que elas aqui têm um sabor diferente, são muito caras por serem exportadas de todos os lugares do mundo.
Como tem sido a experiência de criar seus filhos em Dubai? Quais são as principais diferenças em relação à criação no Brasil?
Eu arrisco dizer que eu escolhi o melhor lugar do mundo para criar os meus filhos pequenos, porque eu sou muito apaixonada pelos Emirados Árabes. O ponto alto para mim é a segurança. Consigo deixar o automóvel ligado, com o ar-condicionado ligado, o celular dentro, a chave no contato, ir até a escola, conversar com a professora, voltar e nada acontecer. Aqui não existe vidro, carro blindado. Ninguém mexe comigo na rua, é muito respeito. Não existe mendigo, não existe morador de rua. Aqui é crime dar esmola e pedir esmola. Então, é assim, é um sonho, é uma bolha. Já viajei bastante e acho que é o lugar mais limpo, seguro e bonito. Meu dia a dia aqui é um sonho. É tudo o que eu pedi para Deus e muito mais. Em comparação com o Brasil, infelizmente, tem a violência. Eu tive um episódio violento na família muito difícil, há um tempo atrás, de um primo que foi assassinado em um farol de trânsito, voltando da faculdade, aos 20 anos, que mudou a vida da minha família inteira. E é triste o que se vê nas ruas, enfim, a desigualdade é gigante. Aqui eu sinto, no dia a dia, uma diferença bem brutal.
Tem alguma curiosidade sobre escola dos meninos pra contar?
Na escola do Gael tem uma diversidade que me encanta. Você aprende a lidar com o diferente, com o diferente da sua cultura. Para você ter ideia, são 18 alunos na classe do Gael e são 15 nacionalidades. É uma diversidade cultural gigante. Eles vão crescer com essa visão de aceitação e de respeito amplo. As atividades também são muito ricas e os professores são muito valorizados. O Gael, com 4 anos, já escreve o próprio nome, e começou a ler. E eu tenho dificuldade de acompanhar um pouco, porque preciso correr com o meu inglês. Estou aprendendo com o Gael. É até bonito isso. A gente tem uma troca aprendendo a língua juntos.
Muito se fala sobre a liberdade da mulher em países árabes… Como está sendo a sua experiência e o que você sente em relação a outras mulheres?
Eu cheguei aqui com vergonha do meu conhecimento sobre a região e as mulheres. Quando eu vi as mulheres com as abayas, sheilas (véu), toda tapadas, é lógico que eu ficava um pouco impressionada, porque é muito diferente da gente, mas percebi que elas têm orgulho de usar essas roupas. A maioria segue o Islamismo, mas tem muitas que não são muçulmanas, e adotam a roupa. Antes de ser religioso, é cultural. Os homens usam o branco porque os peregrinos lá atrás na história andavam pelo deserto com o sol muito na cabeça. A cor clara refletia melhor o sol, a manga comprida ajudava a não queimar e o pano na cabeça protegia. Já as mulheres usavam o preto, que era um tecido mais barato, porque ficavam dentro de casa.
Então, o que é aflição pra gente é orgulho pra eles. As mulheres não são obrigadas a usar essa roupa, tem quem não use, não queira. Elas podem escolher. As mulheres aqui são minoria da população e mais graduadas que os homens. O Sheikh Mohammed incentiva todas a estudarem porque são elas que passam o conhecimento, que estão mais em contato com as crianças. As mulheres são super empoderadas, mandam nas famílias e até nos homens que têm mais de uma esposa. Ele só vai ter uma segunda mulher se ela autorizar. É uma cultura diferente. Tive vergonha do meu preconceito ao chegar aqui.
Tem algum episódio que te marcou?
Quando fui na mesquita em Abu Dhabi, a minha abaya tinha uma leve transparência no pulso e nesse lugar sagrado e religioso, não se pode chamar atenção. Como estava ventando, comecei a mostrar um pouco o tornozelo e aparecia também um pouco do colo e pulso, então a segurança veio conversar comigo. Eles foram gentis, não foram grosseiros nem nada, mas pediram para usar uma abaya deles. Um funcionário também solicitou que eu apagasse algumas fotos e vídeos com a roupa que estava vestindo antes. Não devemos ficar tirando fotos e se exibindo, é um lugar de oração. Pedi mil desculpas, fiquei super envergonhada com esse episódio. Agora, eu até acho chique não mostrar tanto o corpo, até as minhas roupas estão mudando. Claro que pode usar biquíni, roupa de ginástica, alcinha, shorts curto, pode tudo… Mas em lugares específicos, como uma mesquita, é proibido. Mas, naturalmente, eu não me sinto bem usando uma regata pra lá e pra cá.
Em relação à religião, você segue ou participa do calendário muçulmano?
Não, eu não sigo a religião, eu respeito. Participei de um Ramadã só, porque eu estou há um ano aqui. Eu não faço jejum, mas gosto de ir pra festa da quebra do jejum, que é muito legal. No final do dia, quando o sol se põe, eles têm uma refeição muito típica, o Sorrur. Os muçulmanos podem comer e beber água até o nascer do sol. Eles fazem várias reuniões e festas e eu tive a oportunidade de participar. É muito especial, muito rico.
Há algum aspecto cultural em Dubai que tenha chamado particularmente a sua atenção ou que você tenha incorporado em sua vida cotidiana?
Eu acho que o aspecto cultural da moda é o que mais tem mudado o meu cotidiano. As minhas roupas mudaram. Eu mandei uma mala de volta das roupas que eu trouxe do Brasil porque eu não me sinto mais confortável usando essas peças aqui. Eu não uso regata e gosto de cobrir o colo, braço e tudo abaixo do joelho. Eu aderi meio que a moda aqui. Claro que eu uso roupa de academia, na correria do dia a dia e tudo bem. E não tem problema porque aqui também pode. É só uma coisa que particularmente eu incorporei. Me sinto mais adequada, elegante. Ando tão encantada com tudo que eu estou aprendendo, que tenho curtido entrar no ritmo deles.
Há a possibilidade de trabalhar como atriz em Dubai? Tem vontade de fazer algum projeto aí?
O meu inglês não é bom ainda, e eu não falo árabe, então acho muito difícil atuar. Aqui não tem uma produção enorme, que nem no Brasil, não tem essa tradição da novela brasileira, isso não existe. Mas Dubai é um ponto de conexão internacional muito grande. E eu, sim, penso em uma carreira internacional, seja séries, filmes… Também sou jornalista de formação e tenho vontade de criar algo para falar, não só de turismo e do glamour de Dubai, mas também da história dos Emirados Árabes, porque aqui a região é muito rica. Quero abordar a condição da mulher, as roupas, a moda, os pontos turísticos… É um país super jovem, com 52 anos… A história deles é linda, de superação. Eram muito pobres e, de repente, descobriram o petróleo. É um país super jovem, com 52 anos… Estou com isso na cabeça, não sei como eu vou concretizar, mas acabei de revelar um dos meus maiores desejos profissionais atuais.
Você estava aprendendo árabe, certo?
Eu aprendi um pouquinho de árabe, porque eu acho gentil quando a gente chega num lugar, aprender a falar a língua local, mas não estou tendo aulas de árabe, eu tenho aulas de inglês, porque quase 90% das pessoas que moram em Dubai são expatriados de outros lugares do mundo, a língua oficial aqui é o inglês. Até o ano que vem eu quero estar com esse inglês tinindo.
O que mais sente falta do Brasil?
Eu sinto falta do Brasil. Eu sinto falta dos meus amigos, falta das pessoas. E claro, a paisagem. Aqui é diferente, é deserto, é tudo novidade pra mim, eu estou naquela fase do encantamento. Mas eu sinto falta da natureza do Brasil. O sabor das frutas brasileiras têm um sabor especial. Dói um pouquinho. Apesar de estar apaixonada por tudo aqui, eu sou brasileira. E tenho orgulho disso.
Em relação a projetos no Brasil, tem algo em vista para esse ano?
Eu vou voltar no meio do ano para gravar o filme Mar de Mães, da Thaís Vilarinho. E se tudo der certo, retorno também para fazer um outro projeto, que eu ainda não assinei, mas que devo ficar uns quatro meses no Brasil trabalhando. Eu amo fazer novela, estou morrendo de saudade. Estou quase três anos fora do ar e desesperada para voltar.
Pensa em ficar de vez em Dubai?
Quero continuar trabalhando no Brasil, mas não tenho vontade de viver no Brasil novamente. Estou feliz em Dubai. Gosto de morar aqui e não tenho previsão de voltar a morar no meu país. No entanto, vou deixar a vida acontecer.