Plano de paz de Trump para Gaza enfrenta resistência no Hamas, que promete resposta rápida. Enquanto a ala política cogita ajustes, a militar rejeita totalmente a proposta, que prevê desarmamento do grupo e abre caminho para um futuro Estado palestino
O Hamas afirmou que vai divulgar em breve sua posição oficial sobre o novo plano de paz apresentado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para encerrar a guerra na Faixa de Gaza.
Em entrevista à rede Al Jazeera, do Catar, o dirigente Mohamed Nazzal destacou que o movimento “não aceita ameaças, imposições ou pressões” de governos e instituições internacionais, e garantiu que a resposta será rápida, levando em conta os interesses estratégicos e políticos dos palestinos.
Nazzal reiterou que o grupo está comprometido em buscar um acordo, mas rejeitou a ideia de que uma trégua represente abrir mão de direitos. “Tempo é sangue”, disse, reforçando que o Hamas tem críticas ao plano entregue na segunda-feira, mas reivindica o direito de debater os termos.
Enquanto isso, a BBC noticiou que Izz al-Din al-Haddad, líder da ala militar do Hamas em Gaza, já indicou aos mediadores que não aceita a proposta. Ele acredita que o plano busca a eliminação do Hamas, independentemente da posição do grupo, e estaria decidido a continuar a luta.
O plano norte-americano, aceito por Israel, prevê 20 pontos, incluindo o desarmamento do Hamas e a exclusão do grupo do futuro governo de Gaza. Parte da liderança política do movimento, sediada no Catar, estaria aberta a ajustes, mas sua influência é limitada, já que não controla os reféns em poder da ala militar. Estima-se que 48 pessoas ainda estejam detidas, sendo apenas 20 vivas.
A desconfiança do Hamas também se deve ao temor de que Israel retome ataques após a libertação dos reféns. A percepção foi reforçada pela tentativa recente de Tel Aviv de assassinar líderes do movimento em Doha, contra a vontade dos EUA.
Outro ponto sensível é a previsão do envio de uma “Força Internacional de Estabilização temporária” a Gaza, rejeitada pelo grupo por ser vista como forma de ocupação. Além disso, declarações do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, contrariam os termos americanos, já que ele defendeu a permanência de militares israelenses em partes de Gaza e reafirmou oposição à criação de um Estado palestino.
Segundo autoridades locais, a guerra iniciada após o ataque do Hamas em Israel, que deixou cerca de 1.200 mortos e 251 reféns, já provocou ao menos 66.225 mortos e 168.938 feridos em Gaza, a maioria civis. A ONU considera os números confiáveis.
O documento elaborado por Trump prevê que, caso seja concluído, possa abrir caminho para a autodeterminação palestina e, eventualmente, a criação de um Estado próprio.