Com o aumento das vendas online e das devoluções, especialmente no pós-Black Friday, leilões de logística reversa ganham espaço como solução para escoar produtos com avarias leves ou devolvidos. Plataformas como Sold e Kwara oferecem descontos de até 90%, mas exigem atenção às regras específicas
(FOLHAPRESS) – Para a legislação, usuários que compram produtos ou serviços pela internet têm até sete dias para devolvê-los e pedir reembolso. No varejo, esse fluxo de retorno já faz parte da rotina -e nem sempre é possível colocar os itens de volta na prateleira, especialmente os que estão sem embalagens ou com pequenas avarias, como uma geladeira que foi riscada durante o transporte.
Uma das formas de lidar com o estoque parado é revender itens por meio de leilões de logística reversa. Entre os agentes desse mercado estão a Sold Leilões, do grupo Superbid Exchange, e a plataforma Kwara. Os leilões, no entanto, têm regras próprias, nem sempre seguem o CDC (Código de Defesa do Consumidor) e exigem atenção de quem pretende aproveitar descontos que, segundo a Sold, podem chegar a até 90% do valor original.
À medida que a Black Friday se aproxima -e com ela a previsão de alta de 14,74% nas vendas online neste ano, segundo a Abiacom (Associação Brasileira de Inteligência Artificial e E-Commerce)-, cresce também a expectativa das devoluções de produtos. A Sold espera dobrar o volume de itens disponíveis no período pós-Black Friday. A Kwara diz que costuma realizar cerca de 200 leilões de logística reversa todo ano, e que o volume da oferta aumenta de dezembro até fevereiro.
A transportadora Loggi estima que a porcentagem de devolução sobre os itens vendidos que carrega varia de 5% a 15%, a depender da categoria, sendo liderado pelo segmento de moda. A empresa afirma que o número absoluto de mercadorias devolvidas aumenta em datas comemorativas, como a Black Friday, uma vez que a devolução está diretamente ligada ao número de pacotes vendidos.
Além disso, no caso da Loggi, as cidades com maior origem de devolução são, respectivamente, São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG) e Brasília (DF), dentre as mais de 3.000 cidades em que a empresa atua.
COMO FUNCIONA O LEILÃO DE LOGÍSTICA REVERSA?
Quando uma mercadoria é devolvida -por algum defeito, tentativa de entrega frustrada ou arrependimento do comprador- ele passa por uma avaliação interna. “Primeiro é feita uma triagem, em que é classificada a eventual avaria de cada produto”, diz Jacqueline Luz, diretora comercial da Superbid Exchange.
Em ambas as plataformas, cada item é enquadrado em três categorias:
– Saldo A: produtos com avarias apenas estéticas, normalmente na embalagem. São funcionais e costumam atrair consumidores finais;
– Saldo B: produtos com pequenos defeitos, como riscos ou amassados, mas operacionais. Frequentemente comprados por revendedores;
– Saldo C: itens com defeitos mais sérios ou que não funcionam, vendidos como sucata, muitas vezes adquiridos por empresas de manutenção.
COMO PARTICIPAR?
Interessados podem acessar o site www.sold.com.br ou www.kwara.com.br e criar uma nova conta de pessoa física ou jurídica. Os eventos de diferentes empresas costumam acontecer semanalmente, com datas e horários fixos.
É importante prestar atenção nos prazos, cidades contempladas, condições para participação e formas de se habilitar de cada edital de leilão.
A Sold diz que o comprador precisa retirar o produto pessoalmente, arcar com eventuais reparos e aceitar as condições descritas no edital. “Ele sabe que não tem garantia, que se tiver algum eventual problema vai ter que reparar por sua conta”, diz Jacqueline.
Há a possibilidade de visita física para verificação dos lotes, mas no caso da Sold Leilões, o acesso depende das políticas de cada empresa. “É possível visitar, a gente libera um dia, um horário para ele poder visitar, mas normalmente eles confiam muito nas descrições que estão na plataforma”, afirma a executiva.
Na Kwara, os agendamentos são mediados pela própria plataforma. “As únicas exceções que temos são alguns dos grandes marketplaces, que eventualmente podem ter restrições de visitação por questões de segurança interna. Todos os outros leilões necessariamente têm visitação”, afirma Thiago da Mata, CEO da Kwara e especialista em consórcios e leilões.
Segundo ele, grandes empresas de marketplace e transportadoras costumam ter itens de maior qualidade, com menos avarias do que os de uma seguradora, por exemplo.
LEILÕES SEGUEM O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR?
Segundo o Procon-SP (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor de São Paulo), é preciso ter cautela com os chamados “leilões virtuais”, uma vez que “nem todo o processo está coberto pelo CDC (Código de Defesa do Consumidor)”, como no caso de trocas ou devoluções.
Para o órgão, porém, algumas situações que podem enquadrar um site no CDC incluem:
– Cobrar pela intermediação da venda (exposição, controle e recebimento de lance)
– Não informar de forma clara, precisa e ostensiva quanto às condições e riscos pertinentes a esta comercialização, bem como sobre a própria qualidade do serviço oferecido
– Deixar de cumprir a oferta contida na publicidade
O Procon-SP explica que existem dois tipos de leilões: os realizados por meio judicial, que vendem bens sob administração da Justiça, e o leilão particular, feito a pedido da pessoa que deseja vender algo de sua propriedade.
Este último deve ser “efetuado por um leiloeiro oficial devidamente matriculado na Junta Comercial, e só pode ser realizado ao vivo, em data previamente anunciada e diante do público e seus interessados”, segundo a entidade.
Os chamados “leilões virtuais”, para a definição do Procon-SP, não são caracterizados propriamente como um “leilão”, mas sim uma página de classificados eletrônicos para particulares anunciarem seus produtos. O vendedor não poderá ser caracterizado como fornecedor, mas poderá ser responsabilizado por problemas com a transação por meio do Poder Judiciário.
Para se proteger, o Procon-SP recomenda:
– Ler atentamente o contrato
– Verificar se a página oferece sistema de segurança
– Certificar-se quanto à idoneidade do vendedor
– Comparar preços
– Pedir todo tipo de informação necessária pertinente ao produto desejado
– Confirmar prazos para retorno
– Entender as condições em relação aos demais participantes
– Observar quais as circunstâncias para desistência pelas partes envolvidas
– Investigar os custos de frete e impostos, principalmente em páginas estrangeiras
– Ao receber o produto, verificar se ele está de acordo com o que foi previamente identificado na tela da rede
– Exigir recibo discriminando valor e estado da mercadoria adquirida
Leilões têm produtos devolvidos com até 90% de desconto
Fonte: Gazeta Mercantil – Economia






