A moeda norte-americana fechou em alta de 0,02%, cotada a R$ 5,6752. O principal índice de ações da bolsa de valores opera em queda. Notas de 1 dólar
Rafael Holanda/g1
O dólar fechou estável nesta quinta-feira (7), mesmo com importantes decisões no radar dos investidores. Por aqui, ontem o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC) promoveu um novo aumento na Selic, taxa básica de juros, que agora está em 11,25% ao ano.
O movimento já era amplamente esperado pelo mercado, em meio a uma inflação persistente no Brasil, que ameaça encerrar mais um ano acima da meta do BC, e com o cenário fiscal no centro das atenções dos investidores.
O mercado aguarda o anúncio de um pacote detalhado de cortes de gastos públicos pelo Governo Federal. Nesta quarta, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que espera anunciar os cortes em breve, mas que aguarda aval do presidente Lula para detalhes na proposta. Há expectativa de que as medidas sejam apresentadas ao Congresso ainda nesta quinta.
Lá fora, hoje foi a vez do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) mexer nos juros. A decisão foi por uma redução de 0,25 ponto percentual (p.p.), para a faixa de 4,50% e 4,75%.
O corte foi menor do que a observada na reunião passada, quando o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) decidiu diminuir os juros em 0,50 p.p., após passar quatro anos sem realizar ajustes nas taxas.
Em comunicado, o Fomc informou que indicadores recentes sugerem que a atividade econômica continuou a expandir em ritmo sólido, reforçando que apesar de a inflação norte-americana ter caminhado para a meta de 2%, continua em patamares elevados. (saiba mais abaixo)
Além disso, com a eleição de Donald Trump, que vai comandar os EUA pelos próximos quatro anos, a partir de 2025, especialistas esperam ver novas forças inflacionárias que podem levar o Fed a manter uma postura mais restritiva com os juros nos próximos anos.
Taxas maiores aumentam a rentabilidade dos títulos públicos americanos, considerados os mais seguros do mundo. Isso tende a levar mais dinheiro para os EUA e pode valorizar o dólar.
Já o Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, opera em baixa.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
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Dólar
O dólar fechou em alta de 0,02%, cotado a R$ 5,6752. Veja mais cotações.
Com o resultado, acumulou:
queda de 3,32% na semana;
recuo de 1,84% no mês;
ganho de 16,95% no ano.
No dia anterior, a moeda caiu 1,26%, cotada a R$ 5,6742.
Ibovespa
No mesmo horário, o Ibovespa caía 0,36%, aos 129.874 pontos.
Na véspera, o índice encerrou em baixa de 0,24%, aos 130.341 pontos.
Com o resultado, acumulou:
avanço de 1,73% na semana;
ganhos de 0,48% no mês;
recuo de 2,86% no ano.
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O que está mexendo com os mercados?
O destaque do dia foi a segunda redução seguida das taxas básicas norte-americanas. Referencial agora está na faixa de 4,50% a 4,75% ao ano.
“As perspectivas econômicas são incertas e o comitê está atento aos riscos”, disse o Fomc em nota, destacando que está preparado para ajustar a política monetária caso necessário.
A decisão também veio em linha com as expectativas do mercado, que agora aguarda novas sinalizações por parte do presidente do Fed, Jerome Powell, sobre os próximos passos na condução da política monetária norte-americana.
Na noite desta quarta-feira (6), o Copom elevou a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, para 11,25% ao ano. A alta representa uma aceleração em relação à última reunião do Comitê, quando o aumento foi de 0,25 ponto percentual.
Entre os principais pontos de atenção do Copom estão a inflação persistentes, que já acumula alta de 3,31% em 2024, o real enfraquecido e as incertezas com a economia dos EUA.
O BC entende que é necessário adotar uma dose maior de juros para trazer a inflação brasileira para a meta de 3%. O número estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) pode oscilar em 1,5 p.p. para cima ou para baixo, de 1,5% a 4,5% no ano.
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A atividade econômica ainda potente no Brasil, o mercado de trabalho mais aquecido, e a falta de resolução da questão das contas públicas — que afeta tanto os juros do país como a inflação — foram questões ressaltadas pelo Copom no texto.
No cenário fiscal, a perspectiva de proximidade de um anúncio sobre o pacote de cortes de gastos permanece e o mercado quer ver os detalhes do plano para a contenção das despesas públicas.
O governo efetuou uma série de reuniões com ministros nos últimos dias para fechar os cortes de gastos necessários para manter o arcabouço fiscal — a regra das contas públicas — operante. A expectativa é que o anúncio das medidas possa ocorrer ainda nesta semana.
Vitória de Trump segue no radar
Além disso, destaque para a incerteza na economia global, em especial nos Estados Unidos, após a vitória de Donald Trump nas eleições. Com promessas mais inflacionárias do novo presidente, o Fed pode ter mais dificuldade de baixar os juros por lá — o que demanda taxas maiores aqui para que os investidores queiram investir no Brasil.
Investidores esperam por um fortalecimento da moeda norte-americana nos próximos anos de governos de Donald Trump. Isso porque o republicano defende uma política protecionista com a economia dos EUA, diminuindo o comércio com a China e aumentando as tarifas de importações para outros países, como o Brasil.
“Trump tem batido muito mais forte contra a China e tem atuado para restringir, principalmente, exportações de tecnologia acessível para o país asiático. Ele também tem ameaçado punir países que comecem a operar na moeda chinesa”, explicou ao g1 Welber Barral, consultor especializado em comércio internacional.
“Então, com Trump, podemos ter uma sanção indireta — ou seja, uma sanção contra a China e que possa afetar as exportações brasileiras.”
Esse cenário poder mexer com a balança comercial brasileira, diminuindo o nível de exportações — o que reduziria a reserva de dólares e poderia pressionar ainda mais a inflação.
Mais que isso, o protecionismo econômico de Trump pode encarecer os preços dos produtos dentro dos EUA e gerar mais inflação no país. Como consequência, o mercado espera ver taxas de juros mais altas na maior economia do mundo nos próximos anos. São elas que servem de referência para o rendimento das Treasuries, os títulos públicos norte-americanos.
Como são considerados os produtos de investimento mais seguros do mundo, as Treasuries com rentabilidades mais altas atraem investidores estrangeiros, que encaminham seus recursos para os EUA e dão força para o dólar.